Como que o Bitcoin funciona?
- Alexandre Sallum
- 28 de jun. de 2024
- 6 min de leitura
Atualizado: 15 de jan.
Antes de investir em qualquer ativo, é necessário entender ele profundamente. Naturalmente, com qualquer tipo de inovação, existe uma barreira de entendimento inicial que precisa ser vencida antes de termos a segurança de tomar uma decisão a respeito daquilo.
Estudamos o bitcoin desde 2016 e gostaríamos de tentar elucidar um pouco os leitores de o que é o bitcoin e como que ele funciona. Em prol de facilitar o entendimento, vamos adotar algumas liberdades técnicas e semânticas ao longo do artigo.
Então, afinal de contas, o que é o bitcoin?
O bitcoin é uma moeda digital que roda em uma tecnologia chamada de blockchain. Na sua essência, o bitcoin nada mais é do que um programa de computador.
Esse programa de computador, é open source. Isso significa que o código está disponível em repositórios online para qualquer pessoa baixar, analisar, auditar, usar, ou até mesmo copiar e criar suas próprias versões e alterações.
Todos que querem usar o bitcoin (da forma mais raiz possível) devem baixar esse programa, instalar ele em seus computadores e deixar ele rodando. Isso vai criar uma rede de computadores rodando o programa do bitcoin.
No mundo, existem mais de 18.000 instâncias ou “nós” rodando o programa de bitcoin ao mesmo tempo (fevereiro/2024), todos que conversam entre si.
Como ocorre uma transação de bitcoin?
Dentro desses programas é possível criar carteiras de bitcoin, que são endereços eletrônicos onde o programa irá contabilizar quantos bitcoins ela possui.
Quando alguém quer realizar uma transação para outra pessoa, irá cadastrar as informações necessárias no programa (quantos bitcoins, de qual carteira vai sair, e qual é a carteira de destino).
O programa então pega essas variáveis, registra elas em um “bloco” junto com as variáveis de outras transações que estão ocorrendo, e cria um problema matemático de criptografia que deverá ser solucionado pela rede para validar a transação.
Esse problema matemático é parecido com a senha muito forte de um computador ou site – é impossível de descobrir a resposta por qualquer método sem ser tentativa e erro. Isso significa que é muito difícil achar a resposta certa, porém depois que ela for encontrada, é muito fácil verificar se de fato aquela é a resposta correta.
Todos os computadores da rede começam então a tentar desvendar a resposta desse problema. Isso demanda um enorme poder de processamento e quantidade energia elétrica.
Enfim, alguém vai encontrar a resposta, e quando fizer vai transmitir a resposta para todos os computadores da rede, que irão verificar se a resposta transmitida é a certa. Se de fato for a resposta certa, diversas coisas ocorrerão:
1. O computador que encontrou a resposta certa receberá uma taxa pela transação efetuada, paga por quem fez a transação (“fee de transação”), além de um prêmio de bitcoins novos criados pela rede (“fee de mineração”), que vai diminuindo pela metade ao longo do tempo (“halving”, a cada 4 anos, aproximadamente) até que existam um máximo de 21 milhões de bitcoin.
2. O “bloco” de transações estará validado e as transações serão registradas no blockchain - um enorme banco de dados - junto com todas as transações passadas que ocorreram. Esse banco de dados é público, transparente e auditável. Todos os computadores na rede rodando bitcoin tem ele atualizado e sincronizado entre si. Somando todo o histórico de transações e fees recebidos, é possível calcular quantos bitcoins cada carteira possui.
E o que faz a rede ser segura?
A segurança dos sistema monetários mundiais vem da confiança que as pessoas tem nas instituições por trás, tais como governos e bancos. No caso do Bitcoin, essa confiança é derivada de um mecanismo de consenso.
Falamos de como as informações do Bitcoin são registradas no blockchain e replicadas em todos os computadores (nós) da rede. Se alguém tenta modificar o seu banco de dados para ganhar alguma vantagem, ou se está com seu próprio banco de dados desatualizado pois ficou offline por algum tempo, por exemplo, ele vai estar dessincronizado com o restante da rede, e portanto não vai mais poder participar até que atualize para a versão correta, definida pelo consenso da rede como um todo.
Assim, o único jeito de manipular a rede de Bitcoin e o blockchain em si, seria ser dono de mais do que 50% do poder de processamento da rede como um todo, e pelo poder de processamento da rede hoje, segunda algumas estimativas, seria necessário comprar mais de 7 milhões de processadores, o que custaria mais do que 20 bilhões de dólares, porém não existe essa quantidade de processadores disponíveis para venda hoje, tornando a tarefa praticamente impossível – tanto é que até hoje, em 15 anos de existência, nunca houve sequer uma falha de segurança no algoritmo do Bitcoin em si.
Com isso vemos que o Bitcoin é uma tecnologia de rede, que se torna exponencialmente mais valiosa e mais segura quanto mais nós e conexões possuir, e como hoje ele é a criptomoeda de maior valor e adoção, é a melhor e mais forte.
Mas e se o Bitcoin ficar ultrapassado por novas tecnologias?
Uma característica interessante do Bitcoin que poucas pessoas conhecem é o fato que pode “evoluir”.
Existem mais de 13 mil desenvolvedores que já contribuíram para o programa do bitcoin, muitos dos quais continuam contribuindo, trabalhando arduamente para melhorar o programa do Bitcoin, e o único incentivo deles é de tornar os Bitcoins que eles mesmos possuem mais valiosos.
Quando uma nova versão do programa é proposta pela comunidade, todos os computadores da rede “votam” se aceitam as mudanças propostas ou não ao optar por instalar e rodar a nova versão, ou permanecer com a antiga.
Se a maioria concordar, o novo programa passa a ser usado, e quem não adotar fica de fora da rede, sendo praticamente obrigado a adotar o novo programa se quiser continuar usando o Bitcoin.
Note que como depende do consenso de muitas pessoas, esse é um processo extremamente meticuloso e demorado, que ocorre apenas quando a comunidade tem plena certeza das mudanças que serão implementadas.
Nesse processo de evolução pode acontecer de haver “votos” (que na verdade é poder de processamento) suficientes para manter ambos os grupos operacionais. Nesses casos ocorre o que é chamado de um Hard Fork. Nesse caso, até o momento da divisão o banco de dados é idêntico e depois são criadas versões distintas do banco de dados, um para cada programa distinto.
Com o tempo, o mercado e os próprios usuários decidirão qual versão foi a melhor, migrando para ela e refletindo isso no preço e poder de processamento de cada alternativa. Eventualmente uma das alternativas acaba por ser abandonada e “morre”.
O Bitcoin efetivamente evoluiu pela lei da sobrevivência dos mais melhores.
Conclusão:
Nesse artigo abordamos apenas superficialmente algumas das características do Bitcoin, mas podemos começar a entender como que ele pode se tornar um novo paradigma econômico, onde a confiança passa a ser descentralizada e derivada de mecanismos de consenso mundial ao invés de controlado por instituições centralizadas.
Vimos que o Bitcoin possui algumas características muito importantes, tais como:
· Acessível a todos – independente de status ou localização
· Transparente – pode ser auditado por qualquer um
· Descentralizado - não pode ser controlado por ninguém
· Seguro - praticamente impossível de ser manipulado
· Evolutivo - consegue se manter relevante ao longo do tempo
· Efeito de rede - se torna mais valioso e mais seguro quanto maior for sua adoção
· Escasso - nunca haverá mais do que 21 milhões de Bitcoins em circulação
Acreditamos que essas características tornam o Bitcoin uma ótima forma de guardar valor, de forma descorrelacionada com o restante da economia, assim como ouro, porém de forma muito mais prática.
Além disso por se tratar de uma tecnologia nova em processo de adesão, traz uma oportunidade assimétrica de risco-retorno.
Claro que por ser uma tecnologia relativamente nova, ainda podem existir muitos fatores desconhecidos. Além disso é importante verificar o momento certo de alocação pois o Bitcoin passa por fases de euforia onde o preço se torna irracional (dica: não compre quando todos estão falando que o preço não para de subir).
Mesmo assim, acreditamos que é mais seguro no longo prazo, para qualquer pessoa, ter uma pequena parte de sua carteira de investimentos alocada em Bitcoin.
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